Vida ou lucro?

A polémica sobre a Celtejo foi-se diluindo com o tempo, mas os problemas de poluição no rio Tejo têm persistido. Em virtude das constantes ocorrências no rio Tejo e na sua bacia hidrográfica, a Assembleia Municipal de Santarém realizou dia 28 de março uma sessão temática, com o nome de “Rio Tejo: Presente e Futuro”, contando com a presença do Ministro do Ambiente, por proposta do Bloco de Esquerda.

Nesta altura do campeonato, constata-se que todas as forças políticas e o próprio executivo camarário se manifestam, de alguma forma, em defesa do Tejo. Quem reparar nas suas suas declarações sobre o rio até pode crer tratarem-se de acérrimos ambientalistas! Mas vamos aos factos...

No que respeita ao executivo, uma ETAR sob responsabilidade das Águas de Santarém – empresa municipal – contamina o rio Maior, afluente que vai dar ao rio Tejo (segundo o Movimento Ecologista do Vale de Santarém).

O mesmo executivo não teve problemas em aprovar uma declaração de interesse público a uma pecuária que se encontra ilegal e em cima de uma zona de captação de águas subterrâneas para consumo humano, esquecendo-se (ou não) que os lençóis freáticos também fazem parte da bacia do rio (motivo para alguns ativistas criarem uma petição: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT88564).

Também em pleno bairro de Alfange (bairro ribeirinho), se assiste a uma descarga diretamente para o rio Tejo de águas castanhas e mal cheirosas, criando mal-estar à população. Após denúncia do Bloco de Esquerda na última sessão da assembleia, o executivo continua sem resolver o problema.

A mesma assembleia que organizou esta sessão temática sobre o rio, reprovou uma moção que responsabilizava a Celtejo pelas descargas poluentes e que prestava solidariedade ao Arlindo Marques, pelo processo movido por essa empresa (votos contra do PSD e CDS e abstenção do PS).

Os casos de poluição parecem não ter fim à vista, como são exemplos a frequente contaminação do rio Maior por parte de pecuárias e fábricas de tomate (denúncia do Movimento Cívico “Ar Puro”); e igualmente de pecuárias, para além de indústrias de curtumes, do rio Alviela, também ele afluente do rio Tejo.

Esta sessão da Assembleia Municipal permitiu saber, por exemplo, que uma coima de 12500€ aplicada à Celtejo, pelo incumprimento dos limites de descarga de efluentes no rio Tejo, foi subtituída por uma repreensão por escrito.

É importante dizer que não estamos contra as empresas, estamos sim contra a impunidade dos responsáveis pelo estado em que se encontra este recurso tão importante para a nossa vida.

Juntando estes casos aos já conhecidos da central nuclear de Almaraz, do Transvase Tejo-Segura, da Celtejo, da Fabrióleo e do Travessão do Pego, podemos dizer que não existe um culpado: a culpa é da economia capitalista, que se apropria de tudo e de todos para satisfazer a sua sede incessante de lucro.

Está na altura de uma alternativa sustentável, para bem de todos e de todas. E do nosso planeta.

 

Artigo originalmente publicado no Esquerda.net