Sindicato contra encerramento do hospital do sindicato

A minha avó Júlia dizia “oh neto, para o fim do mundo vê-se tudo”. Realmente…

Vem isto a propósito de o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas ter aplicado o agora lay-off simplificado para encerrar todos os seus serviços de saúde, incluindo o hospital, através do novo regime de lay-off simplificado. Pelo menos durante um mês – no pico da crise - do Covid-19 todos os seus trabalhadores ficam em casa e os utentes ficam sem assistência médica.

O protesto veemente vem do Sindicato, mas agora dos Médicos. O Sindicato dos Médicos da Zona Sul acusa o SAMS (entidade criada pelo Sindicato dos Bancários para gerir o seu “negócio” da saúde) de “atitude irresponsável, que colocou em risco a saúde dos seus trabalhadores e dos doentes, e que culminou na decisão de encerramento de todos os estabelecimentos de saúde, pondo em causa os direitos e proteção social dos médicos, bem como deixando centenas de doentes sem qualquer acompanhamento”.

O Sindicato médico continua as “meigas” acusações ao SAMS/Sindicato dos Bancários acusando-o de “omissão das condições de segurança e saúde dos trabalhadores médicos e da total desconsideração pelos direitos destes”.

O presidente do Sindicato dos Bancários, Rui Riso, é também presidente executivo do SAMS, é também vice-presidente da UGT e foi na anterior legislatura deputado pelo PS e membro da Comissão Parlamentar do Trabalho. Pessoa capaz, portanto!

Tão elevadas capacidades terão gerado “sábias soluções” no momento em que a crise do Covid-19 atinge o seu ponto mais grave. Se o caso não fosse muito sério diria “a saúde está primeiro, fuja do sindicato do banqueiro”.

Na política, como no sindicalismo, os valores e a ética revelam-se nas escolhas e decisões. Esses valores representam também interesses e as escolhas ajudam ou prejudicam alguém ou alguma classe social. Este é um bom exemplo para mostrar como é falso que exista uma “classe política”. No parlamento, num sindicato, numa autarquia, nenhuma decisão é neutra ou inócua!

O sindicalista / executivo / ex-deputado faz-me lembrar outro exemplo: o do SINDEL, sindicato para a indústria e energia da UGT. O Sindel decidiu investir parte das quotas que recebe dos trabalhadores, seus associados, em compra de ações da EDP. É a versão moderna de Olívia patroa / Olívia costureira que ficou famosa na revista portuguesa por Ivone Silva.

Numa reunião de acionistas o Sindel decide com os camaradas chineses e os especuladores dos fundos americanos os dividendos a receber pelas ações, é como a Olívia patroa. Já numa reunião de sindicatos com a empresa a Olívia costureira “desata ao pontapé à máquina da costura”…

Já a Ivone Silva dizia que só havia uma solução para a contradição Olívia patroa / Olívia costureira: “era sanear-me”! Rábulas feitas realidades!

A minha avó Júlia gostava da Ivone Silva!

 

Vítor Franco