A privatização da morte

Lamentavelmente o PSD aprovou com os votos contra de toda a oposição um concurso para construção e edificação de um cemitério em Santarém, sob o signo do populismo "0€ para o munícipe", ignorando inclusivamente a máxima liberal “não há almoços grátis” vulgo custo de oportunidade que apenas parece servir para atacar a oposição, mas que parece não servir para as suas próprias propostas É curioso que quem se afirme liberal na economia e propale "mais livre o mercado mais livre o ser humano", tenha a ousadia de tutelar um dos núcleos da liberdade individual que é maneira como se deseja morrer. Chegando inclusive um deputado a sugerir que chegará o tempo em que as pessoas terão forçosamente de ser cremadas, porque não há espaço e que não há dinheiro para espaço superveniente para campas...

Factos agravados por uma casa mortuária sem condições, sem estacionamento adequado, em que o existente é pago, evidenciando também aqui a lógica comercial da atual gestão.
Mais uma vez e por patrocínio do PSD, vemos como a Direita trata a gestão da coisa pública seja a nível nacional como municipal, caindo o mito do Estado regulador que na verdade é um Estado privatizador, em que as privatizações foram sempre em prejuízo das populações mais vulneráveis como é exemplo disso a privatização dos CTT com a degradação do serviço postal, sendo que quem mais depende dele é a população mais idosa, vemos a linha de coerência da nossa Direita que privatizará tudo o que puder.

Santarém perde a sua capitalidade ultrapassada por Almeirim neste e noutros temas, que qualquer dia bem pode reclamar o título de capital face à inércia e lógica meramente contabilística do executivo vigente que vê no espaço público sempre um recurso económico e um bem de mercado pronto a rentabilizar pelos privados, com prejuízo de quem nos visita e de quem aqui habita.
Por fim e não menos importante fica a marca ideológica de um partido que até a gestão da morte privatiza, "esquecendo-se" que vai desvalorizar em cerca de 30 por cento as habitações circundantes que são na maioria de pessoas que vivem do seu trabalho, bem como que nenhum privado vem para perder dinheiro ficando uma cremação mais cara do que seria se a gestão fosse pública.
É caso para dizer que o barato sai caro e a incompetência e falta de um projecto de cidade do PSD sai muito cara a Santarém numa cidade em que deixamos de ter munícipes para ter clientes...

Luís Martinho

Jurista, mestre em Ciências Jurídico Financeiras